Realização: Amigos do Parque
Em 1861, as florestas da Tijuca e das Paineiras foram declaradas por D. Pedro II como Florestas Protetoras e teve início então um processo de desapropriação de chácaras e fazendas, com o objetivo de promover o reflorestamento e permitir a regeneração natural da vegetação. Ainda hoje é possível identificar pés de café, construções e ruínas das antigas fazenda, como a Solidão, Mocke e Midosi, entre outras. Pode-se dizer que a Tijuca está entre as áreas protegidas pioneiras no mundo, já que é mais antiga até do que Yellowstone, o primeiro Parque Nacional, criado em 1872, nos Estados Unidos. O Parque Nacional da Tijuca é reconhecido por abrigar a maior floresta urbana replantada pelo homem no mundo.
O reflorestamento foi confiado ao Major Manuel Gomes Archer, que iniciou o trabalho com 11 pessoas negras escravizadas, alguns feitores, encarregados e assalariados que deram início ao reflorestamento.
Em apenas 13 anos, mais de 100 mil árvores foram plantadas, principalmente espécies da Mata Atlântica. Na linha de frente, 11 negros escravizados demonstraram, naquela época, conhecimento especializado sobre a dinâmica da floresta. Seus nomes eram: Maria, Eleutério, Constantino, Manoel, Mateus, Leopoldo, Sabino, Macário, Clemente, Antônio e Francisco. Eles preparavam os caminhos, abriam os locais de plantio e cultivavam mudas de espécies nativas de maneira sustentável, demonstrando um profundo entendimento do ecossistema há mais de 160 anos.
Inicialmente, seis pessoas negras escravizadas deram início ao plantio na área que hoje corresponde à Floresta da Tijuca. Paralelamente, outro grupo, composto por cinco escravizados, começou a recuperar o local onde se situa atualmente a Floresta das Paineiras. Uma história que muitos ainda desconhecem. Em 25 de março de 2025, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou o Projeto de Lei 605/23, que incluiu o nome dessas 11 pessoas no livro dos Heróis e Heroínas do Estado do Rio, um reconhecimento que buscou evitar o apagamento do grupo formado por uma mulher e 10 homens negros.
O substituto do Major Archer, o Barão d’Escragnolle, manteve os esforços de reflorestamento e iniciou também um trabalho de paisagismo voltado para o uso público e a contemplação. Sob coordenação do renomado paisagista francês Auguste Glaziou, a floresta foi transformada em um belo parque com recantos, áreas de lazer, fontes e lagos. A aleia de eucaliptos e algumas pontas que vemos hoje são resquícios deste trabalho. O plantio teve continuidade nos anos seguintes e, associado ao processo de regeneração natural, formou a grande floresta existente hoje no Maciço da Tijuca.
Após anos de relativo abandono e esforços pontuais de manutenção, a Floresta da Tijuca teve um período de forte revitalização na gestão do milionário e mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya, na década de 1940. A revitalização incluiu a abertura dos Restaurantes Esquilos, Floresta e Cascatinha, a consolidação das vias internas e os recantos e projetos paisagísticos de Roberto Burle Marx.
Em 1961, a maior parte do Maciço da Tijuca – com as florestas das Paineiras, do Corcovado, da Tijuca, da Gávea Pequena, dos Trapicheiro, do Andaraí, dos Três Rios e da Covanca – foi transformada em Parque Nacional, recebendo o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro, com 33 km². Seis anos depois, em 8 de fevereiro de 1967, seu nome foi definitivamente alterado para Parque Nacional da Tijuca e, em 4 de julho de 2004, um Decreto Federal ampliou os limites do Parque para 39,51 km², incorporando locais como o Parque Lage, a Serra dos Pretos Forros e o Morro da Covanca.
O patrimônio natural é sem dúvida o mais conhecido e consagrado no Parque, mas sua ocupação ao longo de quatro séculos gerou uma valiosa herança histórico-cultural, que hoje se constitui em um importante acervo a ser preservado.